Nota-se, portanto, que a expressão "Posso não concordar com o que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo" é uma daquelas frases que muitos leram, alguns citaram e quase ninguém pesquisou de onde verdadeiramente veio (e de quem é!). Há um grande risco na falta de precisão em casos assim, porque uma falsa atribuição nem sempre enobrece um autor.
Condorcet Marie Jean Antoine Nicolas de Caritat, o marquês de Condorcet (1743-1794), foi um filósofo e matemático ligado à Revolução Francesa. É autor da obra Ensaio sobre o cálculo integral e fez parte da Academia de Ciências de Paris a partir de 1769.
Na verdade, como pode-se verificar, a tão citada frase foi elaborada por uma biógrafa de Voltaire, em uma obra do início do século 20 - portanto, bem distante do período de vida e produção do filósofo francês. Em um livro de 1906 chamado Th e friends of Voltaire ("Os amigos de Voltaire" - tradução livre), publicado em Londres pela Smith, Elder & Co., a escritora Evelyn Beatrice Hall (1868-c. 1939) - que durante um tempo usou o pseudônimo S. G. Tallentyre - trata de dez figuras notáveis com quem seu biografado, de alguma forma, se relacionou. São eles: D'Alembert, Diderot, Galiani, Vauvenargues, D'Holbach, Grimm, Turgot, Beaumarchais, Condorcet e Helvétius. É na parte dedicada a este último que a biógrafa apresenta a frase "I disapprove of what you say, but I will defend to the death your right to say it" ("Eu discordo do que você diz, mas vou defender até a morte seu direito de o continuar dizendo", em tradução livre).
Talvez por uma questão de estilo, Evelyn Hall colocou a frase entre aspas e a construiu em primeira pessoa, o que acabou gerando a confusão e a falsa atribuição. Mas, de fato, a intenção da escritora era resumir o posicionamento que Voltaire teria adotado com relação ao banimento de um livro de Claude-Adrien Helvétius (1715-1771), outro filósofo francês com quem ele teve certo desacordo. Em 1758, Helvétius publicou o livro De l'espirit, o qual foi condenado pela Sorbonne, pelo Parlamento de Paris e até pelo Papa, chegando a ser queimado. Apesar do desacordo explícito com relação ao pensamento de Helvétius, Voltaire não acreditava que o banimento daquele livro fosse um ato correto. Foi a atitude de Voltaire frente a esta situação que Evelyn Hall tentou resumir com sua frase, inadvertidamente escrita entre aspas e em primeira pessoa.
Em outro livro da mesma autora, chamado Voltaire in his letters ("Cartas de Voltaire" - tradução livre aproximada), publicado em 1919, aparece a mesma ideia, ora apresentado como um "princípio voltairiano" (embora ainda grafado entre aspas e em primeira pessoa), com uma mínima alteração de redação que não resulta em conteúdo diferente. Ainda ali, Hall encerra o "princípio" em um posicionamento de Voltaire para com Helvétius.
UMA CONSTRUÇÃO TARDIA Nota-se, portanto, é que a famosa afirmação nem é de Voltaire nem configura um resumo de sua filosofia como um todo. Ela é, precisamente, uma construção tardia de uma biógrafa, e não faz mais do que retratar uma determinada posição adotada por Voltaire em uma situação muito específica com outro filósofo - e faz com que seu poder de frase-lema da liberdade de expressão seja consideravelmente reduzido.
Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente do que já vivi até agora. Tenho muito mais passado do que futuro. Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas.. As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço. Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte. Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha. Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos. Detesto fazer acareação de desafectos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário geral do coral. ‘As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos’. Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa… Sem muit
Petistas no UMBRAL - Escrito na porta de entrada do INFERNO que espera os petistas- -" Ó, vós que entrais, abandonai toda a esperança."- Como todo petista falecido sabe, o inferno é formado por Nove Círculos, Três Vales, Dez Fossos e Quatro Esferas. O inferno torna-se mais profundo a cada círculo, pois os pecados são mais graves e pesados. Portanto os pecados menos graves estão logo no ínicio, e os mais graves no final. Nas fotos -CALAZANS DIANTE DA CASA DE DANTE- "Divina Comédia" de Dante Alighieri, CALAZANS DIANTE DA CASA DE DANTE ! , A justiça do inferno debatida no canto 11 está de acordo com a idéia de Aristóteles que relata, na sua obra Ética a Nicômaco: "deve ser observado que há três aspectos das coisas que devem ser evitados nos modos: a malícia, a incontinência e a bestialidade." A alma incontinente tem culpa, mas a culpa é menos grave que o dolo(má-fé), a vontade de pecar. Esta vontade, quando se origina como manifestação da natureza ani
Nota-se, portanto, que a expressão "Posso não concordar com o que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo" é uma daquelas frases que muitos leram, alguns citaram e quase ninguém pesquisou de onde verdadeiramente veio (e de quem é!). Há um grande risco na falta de precisão em casos assim, porque uma falsa atribuição nem sempre enobrece um autor.
ResponderExcluirCondorcet
Marie Jean Antoine Nicolas de Caritat, o marquês de Condorcet (1743-1794), foi um filósofo e matemático ligado à Revolução Francesa. É autor da obra Ensaio sobre o cálculo integral e fez parte da Academia de Ciências de Paris a partir de 1769.
Na verdade, como pode-se verificar, a tão citada frase foi elaborada por uma biógrafa de Voltaire, em uma obra do início do século 20 - portanto, bem distante do período de vida e produção do filósofo francês. Em um livro de 1906 chamado Th e friends of Voltaire ("Os amigos de Voltaire" - tradução livre), publicado em Londres pela Smith, Elder & Co., a escritora Evelyn Beatrice Hall (1868-c. 1939) - que durante um tempo usou o pseudônimo S. G. Tallentyre - trata de dez figuras notáveis com quem seu biografado, de alguma forma, se relacionou. São eles: D'Alembert, Diderot, Galiani, Vauvenargues, D'Holbach, Grimm, Turgot, Beaumarchais, Condorcet e Helvétius. É na parte dedicada a este último que a biógrafa apresenta a frase "I disapprove of what you say, but I will defend to the death your right to say it" ("Eu discordo do que você diz, mas vou defender até a morte seu direito de o continuar dizendo", em tradução livre).
Talvez por uma questão de estilo, Evelyn Hall colocou a frase entre aspas e a construiu em primeira pessoa, o que acabou gerando a confusão e a falsa atribuição. Mas, de fato, a intenção da escritora era resumir o posicionamento que Voltaire teria adotado com relação ao banimento de um livro de Claude-Adrien Helvétius (1715-1771), outro filósofo francês com quem ele teve certo desacordo. Em 1758, Helvétius publicou o livro De l'espirit, o qual foi condenado pela Sorbonne, pelo Parlamento de Paris e até pelo Papa, chegando a ser queimado. Apesar do desacordo explícito com relação ao pensamento de Helvétius, Voltaire não acreditava que o banimento daquele livro fosse um ato correto. Foi a atitude de Voltaire frente a esta situação que Evelyn Hall tentou resumir com sua frase, inadvertidamente escrita entre aspas e em primeira pessoa.
Em outro livro da mesma autora, chamado Voltaire in his letters ("Cartas de Voltaire" - tradução livre aproximada), publicado em 1919, aparece a mesma ideia, ora apresentado como um "princípio voltairiano" (embora ainda grafado entre aspas e em primeira pessoa), com uma mínima alteração de redação que não resulta em conteúdo diferente. Ainda ali, Hall encerra o "princípio" em um posicionamento de Voltaire para com Helvétius.
UMA CONSTRUÇÃO TARDIA
Nota-se, portanto, é que a famosa afirmação nem é de Voltaire nem configura um resumo de sua filosofia como um todo. Ela é, precisamente, uma construção tardia de uma biógrafa, e não faz mais do que retratar uma determinada posição adotada por Voltaire em uma situação muito específica com outro filósofo - e faz com que seu poder de frase-lema da liberdade de expressão seja consideravelmente reduzido.