como falar com a mídia - dicas de Flávio Calazans

ADMINISTRANDO SEU CONTATO COM A MÍDIA

A mídia , como a etimologia do termo já demonstra, são os meios de comunicação (como Jornal, Revista - Mídia Impressa, e Rádio, Televisão e Internet- Mídia Eletrônica) que informam a sociedade civil, formam a “opinião pública” do contribuinte-eleitor-consumidor.

Quase a maioria dos pensamentos e sentimentos sobre o mundo é resultado de informação mediada, trazida pela mídia; pressão sobre governantes em greves de professores –pesquisadores, aclamação por descobertas, fama e notoriedade, sucesso e reconhecimento, verbas, etc... Tudo isto no mundo de hoje depende de ter saído na mídia, é como uma apresentação que abre portas e facilita tudo, pois as pessoas sentem-se familiarizadas com o rosto ou assunto que já leram no jornal ou revista que respeitam ou na TV que gostam, dá credibilidade – pensam que só os maiores expoentes da área e bons no assunto aparecem na mídia, gente importante e prestigiada – estar na mídia representa ser ouvido naquele tema, ser “celebridade”.

A mídia também documenta, registra como uma crônica os eventos e personalidades de cada área e cada época; a mídia é fonte de pesquisa histórica como eram os cartórios antigamente, um arquivo de jornal impresso ou telejornal traz depoimentos pró e contra tudo o que ocorreu em cada período histórico com mais detalhes que a história oficial que registra apenas as opiniões dos vencedores e dominantes.

Para aparecer na mídia é preciso conhecer os jornalistas, ter contatos, ou pagar um assessor de imprensa para colocar seu nome circulando.

Primeiro faz-se um press-release ou sugestão de pauta onde demonstre que seu tema ou assunto ou evento é NOTÍCIA, ou seja, algo interessante, ou divertido ou exótico e diferente, algo que seja ENTRETENIMENTO para o telespectador ou leitor , que tire-o do tédio e monotonia quotidiano, e talvez, mas só em segundo plano, que também seja de utilidade pública e bom para o leitor-telespectador, um tema novo, recente, atual, inédito, o leitor deseja ser surpreendido com o desconhecido, o espetacular, maravilhoso (informações bem fundamentadas e teses científicas complexas devem ficar em livros e anais de congressos, mídia é SHOW BUSINESS, deve-se ter isto bem claro se deseja MESMO ir aparecer na mídia).

As pessoas só se interessam pelo que as afete diretamente ou algo que lhes dê vantagem de algum modo, ou próximos geograficamente, isto será notícia, o que der vantagem ou afetar o leitor-telespectador.

O texto deste release - sugestão de pauta deve ter cerca de 20 linhas de 70 toques, uma página apenas, com um título curto, adjetivado e chamativo de no máximo cinco palavras; seguido do LEAD – as respostas para as perguntas de Kipplig: o que, quem, como, onde, quando e por que.

As seis perguntas devem vir resumidas no primeiro parágrafo:

O que- Foi descoberto novo biocombustível não poluente; Quem- pelo doutor Alfredo Alves ; Como- após testes com vegetais brasileiros; Onde- no laboratório da Universidade pública; Quando- após vinte anos de pesquisa; Por Que- para melhorar a qualidade de vida das cidades diminuindo a poluição e salvar o meio-ambiente.

Com o título:

“O resto da sua salada vai salvar o mundo!- diz o cientista”.

Este título sensacionalista vai atrair o leitor mais simplório, mas alguns jovens jornalistas metidos a intelectuais e literatos podem achar muito apelativo, assim, para cada meio de comunicação deve-se ter um título e até texto.

“Descoberto novo Biocombustivel feito de plantas brasileiras”.

Este seria um título mais pomposo que perde em atrativo mas ganha em objetividade, ambos títulos estão corretos, cada um para um nível de leitor, deve-se tentar atingir o mais ignorante dos leitores, pensar no pior deles e escrever/falar para ele, que nada sabe e não tem vocabulário nem pré-requisitos, mal foi alfabetizado, se conseguir escrever neste nível infantilóide vai atingir todos os leitores, todas classes sociais...a palavra BIOCOMBUSTÍVEL neste segundo título é um termo técnico, uma palavra difícil que deve ser evitada ou explicada com exemplos concretos ou dará a impressão de arrogante, pedante, petulante, antipático... Evite também palavras em outras línguas ou as explique imediatamente.

Cada parágrafo do texto detalha uma das perguntas, do mais importante até o menos importante, parágrafos de cinco, no máximo sete linhas, frases curtas e diretas sem apostos ou orações subordinadas, em tom coloquial, como se conversando com um interlocutor extremamente ignorante e desatento com o mínimo de poder de concentração, dispersivo e entediado (este também é o tom em entrevistas de rádio e TV), suas idéias devem ser apresentadas retoricamente, agradáveis e persuasivas... E for paternalista ou condescendente eles mudam de canal ou antipatizam, acerte o tom exato... De conversa, eles estão em casa e você entrou na sala deles pela TV, daí ser melhor olhar para a câmera como se olhasse nos olhos do público e falar com espontaneidade e intimidade.

Comece alguns dos parágrafos com expressões-gancho como: “Por outro lado” ou “Outros negam” e pareça mostrar conflitos e debates, o leitor-telespectador quer ver antagonistas, brigas, confusão, heróis e vilões para torcer como faz no futebol, na televisão prepare-se para provocações e perguntas embaraçosas, pois é o ataque que dá audiência, ver você sofrendo em situação difícil vai divertir o telespectador... (pelo Efeito Bartlett, descoberto nos anos 30 por Bartlett, ele vai esquecer os pontos contra e guardar só o que você mesmo trouxe de argumentos a favor); mas muito cuidado, fale sempre, desvie do tema, mas NUNCA fique em silêncio, vai parecer que aceitou a derrota se calar um segundo ao ser questionado, saiba responder qualquer pergunta e pré-defenda de ataques, preveja os pontos fracos e seja advogado do diabo, imagine que você deve atacar o tema e a pessoa que fala, por onde faria o ataque?

Para a televisão deve ter fotos, vídeos, imagens, que demonstrem valer a pena trazer uma equipe até você ou que você vai levar figuras bonitas, interessantes, coloridas, com movimento, como os fogos de artifício que as criancinhas gostam tanto, pense em fogos de artifício para a tv, onde tempo é dinheiro, precisa dizer tudo em dois a três minutos no máximo, mas tenha assunto para duas horas pois nunca sabe qual será a pergunta... Seja educado, nunca se altere, e responda com bom humor a tudo, respostas precisas que não abram flancos para ataques.

Memorize uma ou duas frases de impacto e repita-as, fique satisfeito se uma frase que resume sua mensagem seja divulgada com o seu nome ou imagem.

Nos USA o jornalismo tem 90 anos nas universidades e um formado em Direito, Economia ou Ciência Política, Artes, etc faz uma pós-graduação de um ano e se torna jornalista especializado, ao contrário, no Brasil os cursos de jornalismo começaram a cerca de 30 anos e são só quatro anos, formando jornalistas muito jovens (muitos só com 21 anos) e sem bagagem cultural ou vivência, despreparados e generalistas esforçando-se em escrever sobre assuntos dos quais nunca leram nada, estes julgarão se sua pauta ou assunto vale ou não pena publicar, então, você precisa ser compreendido por este “foca” intermediário especializado em generalidades, superficialidade e futilidades antes de aparecer na mídia e ter sua mensagem banalizada, super simplificada e explorada com o maior sensacionalismo barato para depois ser imediatamente descartada e esquecida como modismo passageiro.

Noam Chomsky escreve muito sobre como verdadeiramente funciona a mídia nos USA e no mundo, vale a pena conhecer seus argumentos.

Outras Teorias da Comunicação aos montes explicam como funciona e o que é a mídia; definem a EXPOSIÇÃO SELETIVA- afirmam que as pessoas só assistem programas que reforcem o que já pensavam antes e evitam, esquecem ou adulteram recordação de tudo o que os contrarie, a memória do público é seletiva, recordam apenas os trechos que interessam-lhes por reforçar suas próprias idéias e ilusões, Klapper demonstrou que a mídia só reforça os preconceitos e nunca acrescenta um ponto de vista novo, e se tentar expor o público a argumentos diferentes ou novos, eles mudam de canal, sempre só querem ter confirmado o que acreditavam antes.

O volume de informação diária sobrecarrega, estressa, ocasiona fadiga mental e faz ficar passivos, apáticos, e desde as teorias dos anos 1930 e 1940 como a Funcionalista que autores como Lazarsfeld falam da DISFUNÇÃO NARCOTIZANTE da mídia, a apatia e conformismo , e a velocidade em que novidades chegam e são editadas e apresentadas impede a reflexão e o pensamento crítico, dizem Frankfurtinianos como Adorno e Horkheimer; e entre duas informações contraditórias o público vai escolher a que lhe traga ganhos e esquecer ou distorcer a outra, Festinger chamava isto de DISSONÂNCIA COGNITIVA...já Riesmann (que criou o termo Sociedade de Consumo) dizia que estas massas são heterodirigidas, teleguiados, marionetes, e Fromm explicava que se iludiam repetindo cegamente o que viam como papagaios, denominava esta psicologia alienada de PSEUDOPENSAMENTO...Goebbels, ministro de propaganda de Hitler no Nazismo, dizia que uma mentira muito repetida é aceita como verdade, é o “efeito latente” onde o lapso de tempo decorrido e as repetições fazem aceitar como dogma e verdade o que quer que seja repetido incessantemente por muito tempo na mídia.

Este é o modo como funciona a mídia, e este é o pensamento de quem vai assistir ou ler sua mensagem na mídia, esteja consciente disto e avalie se vale a pena mesmo ir aparecer na mídia.

Bibliografia:


BROWN, Michele & BRANDRETH, Gyles. Como entrevistar e ser entrevistado. Lisboa: Editorial Presença, 1989. capítulo 8- entrevistas para a rádio e televisão, p.156 a 172.

CALAZANS, Flávio Mário de Alcântara. Propaganda Subliminar Multimídia. 6.edição, São Paulo, Summus Editorial, 1999. (Coleção Novas Buscas em Comunicação, vol. 42)-ISBN 85-323-0411-7.

DIAS, Vera. Como virar notícia e não se arrepender no dia seguinte. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 1994.

DUARTE, Jorge Antônio Menna. PESQUISA E IMPRENSA-ORIENTAÇÕES PARA UM BOM RELACIONAMENTO. São Paulo: UNESP/EMBRAPA, 1998.

DUARTE, Jorge Antônio Menna (Org.). Assessoria de imprensa e relacionamento com a mídia, teoria e técnica. São Paulo: Atlas, 2002.

SOBREIRA, Geraldo. Manual da fonte- Como lidar com os jornalistas. São Paulo: Geração editorial, 1993.

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