Bartolomeu de Gusmão o Padre Voador

A Aeronáutica Pré-Colombiana: Dos Incas Voadores de Nazca ao Padre Voador de Santos.
Desde pequeno tenho ouvido muitas histórias da minha cidade de Santos, litoral de São Paulo, Brasil; uma destas histórias sempre me chamou muito a atenção, é a do meu conterrâneo também nascido aqui em Santos, em 1685, o padre jesuíta Bartolomeu de Gusmão.

Os padres jesuítas tem um "ano sabático", quando viajam para outros países por um ano, para conhecer outros costumes, culturas diferentes, ampliando a visão de mundo; Em 1705, o padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão foi a Bolívia, onde os espanhóis escravizavam os indígenas ( os jesuítas eram contra a escravidão dos índios, teologicamente, descendentes do bíblico filho de Noé ,Sem, somente os descendentes de Cam, Camitas, negros,deveriam servir.), lá, segundo lendas orais, Bartolomeu teria ajudado um índio a fugir do cativeiro e este o teria levado a uma cidade de pedra na cordilheira dos Andes.

Os espanhóis ficavam surpresos com os templos incas não terem escrita, e sim muitas cortinas de cordinhas pelas paredes; o indígena teria explicado a Bartolomeu que as cordinhas Quipuas seriam a escrita, nós de vários tipos em espaços equivalentes a uma partitura musical, escrita fonética parecida com nosso código morse.

Por três meses o escriba inca teria traduzido as Quipuas e ditado segredos pagãos, não-cristãos, ao padre santista.

O Império Inca , que Pizarro vence traindo o inca Atahualpa, tinha estradas, distribuía excedentes de colheitas em vilarejos distantes centenas de quilômetros em terreno montanhoso, usava as Lhamas como animal de carga, mas nunca tiveram carroças, a roda era conhecida mas usada apenas em brinquedos de crianças, um império gigantesco unificado e funcionando com poucas estradas e sem rodas ou carroças, onde mensagens chegavam de um extremo a outro do império em velocidades superiores as dos europeus civilizados ( aliás, enquanto os europeus comiam com facas e dedos, os pré-colombianos usavam garfo e faca sem sujar os dedos de gordura).

Em 1708 Bartolomeu chega a Lisboa, Portugal, onde o Rei Don João V concede ao padre vindo do Brasil uma pensão para desenvolver um projeto secreto muito, muito misterioso...

No dia 5 de agosto de 1709 , Bartolomeu apresenta sua "Passarola", uma gôndola semelhante em desenho a um capacete militar de nobre inca, com um fogareiro e uma enorme cortina de tecido grosso costurada como um saco gigante; o padre acende o fogo, a cortina cresce cheia de ar quente, e logo a gôndola com ele dentro sobe, separa-se do chão e voa !!!

Em meio a embaixadores de língua alemã, italiana, espanhola, inglesa e outras, é registrada historicamente a primeira demonstração de vôo com ar quente, o primeiro balão.

A "Passarola" tinha uma sofisticada engenharia, com até mesmo um avançado leme que permitia manobrar com os ventos, velas laterais ao balão, tubos de foles que conduzem o ar quente , duas asas laterais que a equilibram durante as manobras, espaço para dez a doze passageiros ou carga com peso equivalente, duas esferas magnetizadas que criam tensão entre dois imãs e o corpo folheado a ferro da gôndola, toda esta tecnologia altamente sofisticada de navegação aérea teria sido, alegava Bartolomeu de Gusmão, ensinada a ele pelo ex-escravo, o escriba.

Lamentavelmente, o tecido do balão não foi feito da lã grossa e felpuda das Lhamas, e o tecido feito de lã fina de ovelha européia pegou fogo (um problema de adaptar material a transferência de tecnologia).

Bartolomeu conseguiu manobrar e aterrissou sem grandes danos, apenas uma asa quebrada por descer muito inclinado.

Reformada às pressas, a "Passarola" portuguesa deu outro espetáculo aos nobres fidalgos, aos comerciantes, embaixadores e sacerdotes da igreja católica dia 30 de outubro de 1709, desta vez sem nenhum acidente, uma demonstração de manobras aéreas longa, demorada para provar a segurança, totalmente bem sucedida.

Todavia, mais lamentavelmente ainda, o padre Bartolomeu foi chamado pela Igreja Católica, o Santo Ofício da Inquisição o interroga, e acusa de heresia: Somente os anjos podem voar, e um povo não-cristão não pode ter esta benção divina de voar como anjos do céu, céu onde está Jesus com a Virgem Maria; acusado de ter parte com o demônio, Bartolomeu é condenado a nunca escrever sobre as duas experiências de agosto e outubro de 1709, nem falar a respeito e muito menos tentar construir outra "Passarola".

O aparelho voador e todos os cadernos de anotações e desenhos de plantas feitas entre os incas foram confiscados e levados ao Arquivo do Vaticano, parte da famosa biblioteca do Vaticano, em Roma, em cujos subterrâneos estão encerrados até hoje.

Desnecessário sublinhar que Don João V pretendia construir em série as "Passarolas" com objetivos comerciais; Portugal teria o monopólio do comércio e transporte aéreo na Europa e em suas colônias africanas; da Índia, na cidade portuária de Goa trazendo especiarias; de Macao na China as sedas e porcelanas, de Timor na Oceania e do porto artificial feito pelo Shogun frente ao porto de Nagasaki no Japão até mesmo a sua grande colônia do continente americano, o Brasil.

O sonho português deste projeto era aproximar a lusofonia (os povos do mar que falam a língua portuguesa) e acelerar o comércio entre as suas colônias pelos cinco continentes, um mundo unificado pela aeronáutica portuguesa.

Logicamente, mesmo a Inquisição não pode parar os boatos, diversos livros surgiram escritos em alemão, italiano, francês, espanhol e outros idiomas relatando o milagre tecnológico do vôo, graças a estes registros estrangeiros é que se sabe o que e como aconteceu, descrito por diplomatas e comerciantes que foram testemunhas oculares do vôo.

A igreja ridicularizou Bartolomeu, dando-lhe o apelido de "Padre Voador" e impedindo que respondesse aos insultos ou explicasse sua obra pelo resto da vida... Bartolomeu morre esquecido , seu irmão caçula , aquele irmãozinho mais jovem, Alexandre de Gusmão, é quem fica famoso como diplomata , depois de realizar o Tratado de Madrid , ganhando para o Brasil uma colônia (do sacramento) que ultrapassava a linha do Tratado de Tordesilhas ao sul.

Somente em 1783 , 50 anos depois, é que os irmãos Montgolfier apresentam seu pioneiro aeróstato, o primeiro balão registrado oficialmente (o Vaticano tinha as plantas de outro projeto tecnologicamente muito mais avançado mofando no arquivo morto por meio século antes).

Em Santos, apenas em 7 de setembro de 1922 , na praça da Igreja do Rosário, foi inaugurado o monumento em memória do "Padre Voador".
Tive a idéia para este artigo quando fui apresentar uma pesquisa em um congresso em Portugal, e no aeroporto de Lisboa (nas escadas rolantes) vi um mural com o familiar desenho da "Passarola" dizendo que ali em Lisboa o homem voou pela primeira vez, no pioneiro balão do "padre português Bartolomeu de Gusmão" , o que lembrou-me que os franceses pensam que o brasileiro Alberto Santos Dummont, que no avião XIV Bis sobrevoa a torre eiffel, é parisiense (e ignoram os dois irmãos norte-americanos que alegam ter voado antes, mas esperaram 3 anos para anunciar e trazer as testemunhas).

Outra inspiração deste artigo foi uma onda de livros e vídeos pseudo-científicos sobre discos voadores os quais, invariavelmente, apresentam como prova indiscutível da visita de alienígenas as gigantescas figuras gravadas nas pedras das montanhas de Nazca, planície entre o Peru e a Bolívia na Cordilheira dos Andes , onde há colibris, lagartos, homens e um candelabro com 200 metros que só podem ser vistos do alto, da altitude de vôo de um balão ou avião.

Ora, o próprio fundador da companhia aérea "Air Florida", Jim Woodman, sobrevoou Nazca em 1973 e ficou fascinado com o quebra-cabeças desenhado para ser visto do céu , e pesquisando cerâmica Nazca encontrou vasilhas com imagens de balões e pipas-papagaios carregando homens a bordo, além de muitas lendas incas locais sobre feitos heróicos de homens voadores.

Woodman chegou com suas pesquisas até a história do "padre voador" Bartolomeu de Gusmão, e chegou até mesmo a construir seu próprio balão, batizado de Condor I, todo construído empregando material de Nazca , algodão semelhante ao encontrado enfaixando as múmias incas, lã de Lhama, madeira local , cordas etc..e o desenho seguia as descrições da "Passarola" de 1709.

O interessante é que o balão tinha a forma de tetraedro, uma pirâmide invertida com 27 metros de altura, baseada em desenhos das cerâmicas arqueológicas dos museus peruanos, enquanto a gôndola era feita de caniços de totora trançados (uma planta de cabo oco parecido ao bambu que nasce às margens do lago Titicaca, bem na fronteira entre Peru e Bolívia).

Somente em novembro de 1975 o Condor I faz seu vôo inaugural na presença de 30 pessoas, incluindo o campeão inglês de balonismo, Julian Nott (que foi co-piloto de Woodman), o grupo abriu um fosso para produzir a fumaça, ao lado das figuras no mesmo lugar onde há marcas seculares de fogueiras rituais incas, o tecido do balão foi defumado para impedir vazamentos de ar quente.

Assim que as amarras foram soltas, o vento constante dos andes ergueu em segundos o Condor I a 120 metros do solo, e a corrente de vento natural levou-os até a próxima figura do solo, a 250 metros a esquerda da primeira, em um vôo de 14 minutos que comprovou as teses de Woodman a respeito de Bartolomeu de Gusmão ter aprendido sua tecnologia de balonismo da "Passarola" com os incas.

Esta civilização inca, um império unificado da era pré-colombiana, com estradas e lhamas mas que nunca precisou de rodas e carroças (as conhecendo, mas usando apenas como brinquedo de crianças) , teria empregado balonismo em uma sofisticada aeronáutica para transporte de cargas e passageiros, aproveitando as correntes de vento naturais da cordilheira de montanhas dos andes, e chegando ao luxo de fazer figuras decorativas para distrair os passageiros da linha aérea que sobrevoava a planície de Nazca.

Logicamente, a Igreja Católica Apostólica Romana apagou todos os registros desta heresia, condenou ao silêncio o "padre voador" e arquivou nos subterrâneos do Vaticano toda referência ao povo cujo imperador, o Inca, era considerado um Deus vivo , um povo pagão que que voava em balões cheios de demoníaco ar quente das fornalhas do inferno, desafiando Deus ao levar um padre santista até o Céu, onde subiu com o corpo Jesus e a Virgem Maria e foi arrebatado o santo patriarca Enoque.

Teologicamente, só um santo homem pode ir ao céu, se todos pudessem voar, ou todos seriam santos ou os santos poderiam deixar de ser assim considerados.

Hoje, após a Inquisição espanhola e a destruição da cultura inca, com massacre de xamãs , sacerdotes e escribas que davam nós em cordinhas-quipuas, não há nenhuma prova aceitável da existência da Aeronáutica Inca, resta o mistério da "Passarola" e o experimento do Condor I como provocação para inquietar pesquisadores e incomodar os padres que obrigaram Galileu a negar sua teoria que a terra gira em torno do sol.

Gosto de ficar imaginando como seria o nosso mundo se Portugal tivesse produzido em série a "Passarola" e sobrevoado a lusofonia dos cinco continentes...mas é apenas um sonho , um sonho que pode nos ensinar muita coisa sobre nós mesmos.

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